Saúde mental e financeira: entenda essa relação “estreita”

Preocupações sobre finanças acompanham sintomas de ansiedade e depressão, explica psicólogo

Da redação

Angústia, estresse, medo e ansiedade são sinais comuns de que a saúde mental não está bem. Às vezes, sem saber a origem dos sintomas para identificar o problema real, as atenções são direcionadas para o trabalho e a família, porém, a causa pode estar nas dificuldades financeiras que muitos brasileiros estão vivenciando.

Segundo levantamento da SPC Brasil, 69% das pessoas inadimplentes apresentam sintomas de ansiedade no dia a dia. Atualmente, cerca de 62 milhões de brasileiros estão com dívidas ativas no Serasa, ou seja, quase 40% da população adulta.

Felipe Laccelva, psicólogo e CEO da Fepo Psicólogos, explica que a saúde mental está interligada a saúde financeira: “Os problemas financeiros e a saúde mental caminham juntos, as preocupações aumentam os níveis de estresse e alteram o funcionamento de todo o organismo, tendo um efeito devastador para o indivíduo porque vai minando aos poucos a sua autoconfiança e assim corrói a sua autoestima”, comenta.

A influência dos problemas financeiros na saúde mental pode ser observada na rotina, no modo como uma pessoa se relaciona com os outros e consigo mesmo, pois, começam a aparecer pensamentos negativos de menor valia sobre a própria capacidade, desencadeando quadros de doenças mentais como a depressão.

Impactos sentidos no dia a dia 

Alguns sinais podem começar a evidenciar que os problemas financeiros estão desgastando o emocional, como irritação e mau humor, falta de produtividade no trabalho e insônia. Além disso, a pessoa endividada pode desenvolver vícios, como consumo excessivo de álcool, cigarro, e drogas ilícitas. 

Felipe Laccelva destaca que outros sintomas muito comuns são o sentimento de culpa; o afastamento de amigos e familiares; a autoestima prejudicada e a depressão.

Quando o cenário é no ambiente de trabalho, o conflito interno no indivíduo pode ser ainda maior. Isso porque falar sobre saúde mental no ambiente corporativo ainda é um tabu. Dependendo da companhia, os trabalhadores têm receio de falar sobre a situação financeira e serem mal vistos pelos colegas e a liderança. 

Qualquer situação que prejudique o bem-estar do colaborador deve ser um ponto de atenção para as empresas, porque em última instância, fatalmente irá impactar a produtividade.

“As empresas podem planejar um programa de saúde emocional estruturado, a fim de realizar cursos de gestão financeira e dar subsídios para que o colaborador possa superar essa fase”, comenta Laccelva. 

Quando buscar ajuda de um profissional?

Tentar esconder, ou guardar o sentimento para si próprio, não resolverá e pode piorar a situação. Por isso, a busca por ajuda se faz necessária logo nos primeiros sinais descritos acima.

O paciente deve ter em mente que a dificuldade momentânea não o define como pessoa. A partir disso, é necessário desenvolver flexibilidade interna para lidar com o momento vivido, e então encontrar maneiras de se adaptar e lidar com a adversidade.

Atividades que geram bem-estar e relaxamento, como ioga ou meditação, também ajudam nesse processo, porque aliviam o estresse e a carga emocional. “É importante que os familiares também estejam abertos para conversar e dar apoio, é um momento delicado da vida e quem está atravessando pode precisar de suporte das pessoas próximas. É tão importante quanto motivar as pessoas para lidar com essa situação”, finaliza Laccelva.