Por Daisy Silva
No Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, a trajetória de empreendedoras mineiras evidencia a luta por espaço em setores tradicionalmente masculinos. A data, reconhecida oficialmente pela ONU em 1975, carrega um histórico de mobilizações por direitos trabalhistas e igualdade de gênero. Desde o início do século XX, mulheres em diversos países organizaram protestos por melhores condições de trabalho, salários justos e o direito ao voto. Um dos marcos mais trágicos dessa luta ocorreu em 1911, com o incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, que vitimou 146 pessoas, a maioria mulheres imigrantes, e expôs a precarização das condições de trabalho da época.
Apesar dos desafios, a presença feminina no empreendedorismo cresce e inspira. Nesta reportagem, cinco empresárias mineiras compartilham suas histórias, relatando obstáculos superados, conquistas e aprendizados. Elas também deixam conselhos para outras mulheres que desejam trilhar o mesmo caminho, reforçando a importância da resiliência, da autoconfiança e da sororidade para quem busca independência financeira e reconhecimento profissional.
Ana Gabi Costa – Chef do Restaurante Trintaeum
“Eu diria que são muitos os desafios quando se trata do mercado de hospitalidade, de alcançar uma posição de liderança e ao mesmo tempo ser mulher. No início, eu não sabia se tinha talento suficiente, mas sabia que, se a minha entrega não fosse superior à dos homens ao meu redor, eu não teria a menor chance. Ter uma qualidade de trabalho apenas equiparada era o suficiente para me desqualificar. Percebi que eu precisava de duas coisas: uma busca constante e intensa por conhecimento e muitas horas de vôo. Se você está em um ambiente onde existe alguma chance de desacreditarem da sua capacidade ou de suas ideias serem descredibilizadas, a única forma de vencer isso e se sentir mais segura é saber exatamente o que está fazendo. As circunstâncias da vida e os privilégios, ou falta deles, vão interferir diretamente na insegurança que sentimos diante de novos desafios, mas a experiência e domínio do assunto é o que constrói caminhos seguros para esta trajetória.”
Aline Calixto – Cantora
“Ser mulher nesse mundo ainda é muito complicado, por razões óbvias. Por isso mesmo, cada conquista deve ser celebrada com ainda mais intensidade. Me orgulho profundamente da história que construí até aqui, da artista e gestora empresarial que me tornei. Se eu pudesse dar um conselho para aquelas que almejam traçar esse caminho, diria: permitam-se cair quando estiver difícil. Não precisamos ser guerreiras o tempo todo. E, nessas horas, tenham sempre ao seu lado outras mulheres, pois normalmente são elas que vão nos estender as mãos e caminhar conosco nessa jornada. A sororidade é uma força poderosa e transformadora.”
Carol Caram – Proprietária do El Mai
“Ser mãe e empreendedora ao mesmo tempo é um grande desafio, mas também uma experiência extremamente gratificante. Equilibrar os cuidados com os filhos, as responsabilidades domésticas e o gerenciamento de um negócio pode ser estressante, mas a flexibilidade que conquistamos como empreendedoras é um grande benefício. Além disso, minha independência financeira foi uma das maiores conquistas. Ter a segurança de saber que estou trilhando meu próprio caminho é algo que não tem preço.”
Dulce Ribeiro – Sócia do Rex Bibendi
“A maior conquista da minha trajetória é olhar para trás e perceber que valeu a pena manter-me fiel à qualidade do que ofereço. Acredito que a consistência e o cuidado com cada detalhe fazem a diferença no mercado. O maior desafio, porém, tem sido atuar em um mercado onde desigualdades, como os privilégios tributários concedidos a alguns, geram distorções e confundem os consumidores sobre o real valor dos produtos. Isso torna essencial educar o público e reforçar a importância da qualidade. Meu conselho para outras mulheres é que confiem no próprio trabalho, busquem conhecimento constantemente, estudem, procurem referências e compreendam o impacto da tradição e da inovação no setor. Isso faz toda a diferença na construção de uma trajetória respeitada.”
Carol Benatti – Sócia da Stone Light
“Ser empresária e mãe de duas crianças em um setor majoritariamente masculino exige resiliência, mas também traz uma enorme sensação de realização. A Stone Light nasceu da vontade de inovar e trazer algo único para o mercado de drinks prontos, e Belo Horizonte tem sido um celeiro incrível para isso. A cidade respira criatividade e empreendedorismo, o que nos motiva a seguir em frente. Minha maior conquista é ver a marca se consolidar como referência no segmento, provando que é possível equilibrar a vida pessoal e profissional com dedicação e planejamento. Para outras mulheres que desejam empreender, meu conselho é: não tenham medo de ocupar espaços e de buscar apoio quando necessário. A jornada é desafiadora, mas cada passo vale a pena quando se acredita no que está construindo.”