Por Mari Reis
Narrativas femininas inspiradas em contos do roteirista global Silvio Cerceau vão ganhar a interpretação de um elenco mineiro que, de forma natural, vai emprestar corpo, alma e sotaque ao seriado “As Mineiras, Uai”. Além de Pitangui, onde foram feitas as primeiras filmagens, cada um dos outros sete episódios será gravado em um município do Centro-Oeste Mineiro e do Vale do Jequitinhonha. As paisagens próprias de Igaratinga, Felisburgo, Rubim, Araçuaí, São Gonçalo do Pará, Jequitinhonha e Maravilhas serão exploradas na cenografia.
As montanhas, a hospitalidade do povo mineiro e a culinária típica estão no roteiro escrito por Cerceau. O coautor de “Sétimo Guardião” (novela de Aguinaldo Silva) também pensou no fomento ao setor ao escolher os municípios que receberão as gravações. “Todos os municípios colecionam atrações gastronômicas e turísticas que pretendemos explorar. A seleção também levou em conta cidades que precisavam ter mais contato com projetos culturais”, afirma Silvio Cerceau.
Além do elenco mineiro, moradores dos municípios percorridos serão convidados para atuação em figurações e elenco de apoio. “Isso vai aproximar ainda mais as impressões do local para o nosso enredo. Além disso, se eu não estiver enganado, será o primeiro seriado para a televisão gravado em Minas, com tanta gente. São mais de 300 pessoas contratadas. Isso nos posiciona enquanto artistas em uma grande produção fora do eixo Rio-São Paulo, ao mesmo tempo em que fomenta o turismo. Queremos despertar em quem assistir ao seriado a vontade de conhecer um pedacinho do nosso estado, que é tão rico e diverso”, explica o ator, diretor de elenco e sócio da produtora Cangaral, Maurício Canguçu.
As narrativas são independentes, o que significa que os episódios podem ser assistidos em qualquer ordem, já que não há continuidade no episódio seguinte. O roteirista acredita que mulheres de todo o Brasil irão se identificar com as mineiras retratadas no enredo. “Temos personagens que sofrem por amor, há vítimas de feminicídio, uma protagonista trans, mulheres sonhadoras e aquelas que passaram por muitas decepções ao longo da vida”, adianta Silvio Cerceau.
Visibilidade Trans
A atriz e radialista Kayete é uma das protagonistas. No episódio “A Oferecida do Jequitinhonha”, ela interpreta Duda, uma personagem trans que está em busca da cara metade. “O Silvio disse que escreveu esse episódio de presente para mim. Aqui, a ‘oferecida’ tem o sentido de uma mulher que se oferece para a cidade, no sentido de ser extremamente prestativa. Ajuda uma senhora a atravessar a rua e fornece informações da sacada da casa dela”, diz, explicando o adjetivo.
Dando vida à personagem, Kayete comenta o que elas têm em comum. “Gosto muito de ajudar também. Fui muito ajudada na minha carreira, e sempre que posso ajudar, o faço. Além disso, assim como Duda é amada e respeitada pelos pais, minha família também me apoia muito, desde que me assumi LGBT. Aos 8 anos de idade, pedi ao meu pai um vinil da Gretchen”, diz entre gargalhadas. Na vida real, Kayete também encontrou o amor e entrou ao lado dos pais no casamento. Na ficção, só assistindo a “As Mineiras, Uai” para saber.
A produção será exibida em praça pública, em parceria com as Prefeituras de todas as cidades percorridas. Está sendo negociada a disponibilização do seriado em plataformas de streaming. Além disso, o conteúdo, que recebeu um incentivo de R$ 2,5 milhões pela Lei Paulo Gustavo de Minas Gerais, deve ser exibido no Palácio das Artes e na Rede Minas.