Da redação
Nas brincadeiras de criança, Cíntia Maria Faustino Félix sempre tinha duas preferências: o mundo da moda e o da educação. Hoje, aos 35 anos, isso tudo é muito mais que uma diversão e foi transformado em trabalho. Com muito estudo, ela se tornou professora de artes e fundou a AZ Marias (lê-se A-Z Marias), uma marca de slow fashion que transforma resíduos têxteis em roupas para corpos reais.
Moradora de São Paulo há três anos, ela nasceu no Rio de Janeiro e morou no Morro do Fogueteiro, uma região bastante vulnerável da cidade. Mulher preta e periférica, ela sabia o quanto as oportunidades seriam escassas para o desenvolvimento profissional. “E, mais do que eu, minha mãe tinha muito essa consciência e sempre foi muito esperta, no sentido de me proporcionar educação formal – na escola – e informal, em museus, teatros e tudo aquilo que as escolas não proporcionam. Eu sempre soube que queria trabalhar com moda e ser professora e, de fato, são minhas profissões agora”, conta.
Para alcançar os objetivos, Cíntia foi estudar. Ainda no Ensino Médio, ela fez técnico em produção de moda na Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec). Depois, estudou no Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (CETIQT) do Senai, onde se habilitou em Figurino e Indumentária e fez pós em Design de Moda. Concluiu licenciatura em História da Arte na Universidade Candido Mendes e mestrado em Educação na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
E Cíntia passou por um processo até chegar à criação da marca. Enquanto trabalhava em empresas do ramo da moda – do qual ela faz parte há 15 anos – ela começou a se questionar sobre os resíduos têxteis. “Eu via tudo aquilo que por algum motivo não era utilizado e só pensava ‘não é possível’”. Quando teve ainda mais contato com os resíduos, a empresa para qual ela trabalhava estava em processo de falência e na demissão ficou acordado que ela receberia parte em dinheiro e parte em resíduos.
“Eu vi naquilo uma oportunidade de negócio e, além desses resíduos que não eram utilizados, me deparei com outro problema. Quando fui conhecer mais as costureiras, elas me falavam sobre a remuneração, que era muito baixa. Foi nesse meio tempo, entre 2014 e 2015, que a ideia de criar a marca veio com tudo”, conta.
Naquele momento, a mãe de Cíntia, Roseli Maria, também foi fundamental. A filha contou sobre o desejo de empreender e foi incentivada. Mas, mais do que isso, Roseli a aconselhou a levar a marca para perto da família e concretizar uma aproximação com as mulheres da vida delas. E esse elo estava no nome de cada uma.
A AZ Marias (azmarias.com.br) nasceu a partir daí: além de Roseli Maria, a avó de Cíntia Maria é a Rosa Maria. No dia 23 de novembro de 2015, o primeiro CNPJ da marca foi criado e exatamente três anos depois, no dia 23 de novembro de 2018, nasceu, sem data marcada, a filha de Cíntia: Maria Marisa.
E desde que criou a marca, a estilista tem se esforçado para que a AZ Marias se torne cada vez mais conhecida. Para isso, começou a apresentar as roupas em feiras do Rio de Janeiro. Quando veio a maternidade, decidiu que pararia com o trabalho e voltaria em 2023. Mas tudo isso foi adiantado. Por integrar o VAMO (Vetor Afro Indígena na Moda) ela foi convidada a participar do projeto Sankofa, que visa dar visibilidade, apoio e suporte a empreendedores racializados, e a colocou no São Paulo Fashion Week (SPFW). Agora, ela irá para a terceira participação no evento.
Próximos passos
Não é fácil ter uma grife que dependa exclusivamente do esforço pessoal e dos recursos de seus empreendedores. O sonho de Cíntia é de receber investimento para que sua startup decole. “Eu apresento formação, tenho um plano de negócios definido, que inclui estratégias de ESG; minha empresa é economicamente viável e pode ser encubada. Estamos prontos”, diz ela.