O Dia das Bruxas é tradição nos Estados Unidos e em diversos outros países. Mas afinal de contas, o que é o halloween e como a data é comemorada na América?
Por Angelina Fontes
No Brasil, Dia das Bruxas. Em inglês, Halloween! Todo mundo já ouviu falar da data, a qual vem ganhando cada vez mais espaço no calendário das festas brasileiras, seja com comemorações em escolas, em festas particulares ou promovidas por empresas de eventos. Mas, a realidade é que o Halloween se tornou, há anos, uma das comemorações mais tradicionais e culturais nos países anglo-saxônicos, em especial, os de língua inglesa como Estados Unidos, Inglaterra, Irlanda e Canadá.
Entra ano, sai ano, chega setembro e as famílias já começam a decorar as casas para a data. Os jardins tonam-se cenários divertidos e, muitas vezes, assustadores, os quais atraem os olhares de todos que passam por ali. Comércios, escolas, clínicas médicas, escritórios, correios, todos se preparam de forma criativa. As prateleiras das lojas dão espaço para centenas de produtos como objetos de decoração, velas, cremes e sabonetes com aroma de abóbora e canela, roupas com as mais variadas estampas, comidas feitas com abóboras, abóboras dos mais variados tipos e tamanhos, e, claro, fantasias para adultos e crianças. Existe até uma loja, a Spirit Halloween, que abre temporariamente em cidades espalhadas por todo o país para vender artigos de decoração, fantasias, acessórios, jogos e filmes, a qual vende tu-do até o dia 30 de outubro. Ou seja, se deixar para última hora, corre o risco de não encontrar nada. Para se ter uma ideia, somente este ano, a loja está presente em mais de 1400 cidades nos Estados Unidos e, claro, no mercado online.
Além de movimentar a economia em todo o país, o Halloween mantém vivas as tradições de anos atrás e faz a alegria de adultos e crianças com eventos interessantes. Mas, antes, vale entender como a data surgiu.
Como surgiu o Halloween
A palavra Halloween teve origem na Igreja Católica. Ela vem da celebração do dia 1 de novembro, o Dia de Todos os Santos. Sendo assim, Halloween é uma versão encurtada de “All Hallows’ Even” (Noite de Todos os Santos), ou seja, a véspera do Dia de Todos os Santos (All Hallows’ Day), que se dá em 31 de outubro. A data marca, também, o fim oficial do verão e o início do ano-novo céltico.
Mas, daí, vem a pergunta: se é um dia de santos, porque vestir roupas assustadoras? A parte tenebrosa do Halloween veio dos Celtas, que associavam a chegada do inverno à morte e espíritos. Reza a lenda, que os espíritos dos que morreram ao longo do ano corrente voltariam à procura de corpos vivos para possuir. Então, os celtas acreditavam que, para evitar que isso acontecesse, bastava que eles se vestissem de maneira assustadora, a fim de espantá-los ou fazê-los pensar que aqueles corpos já estavam possuídos. Surgia, assim, o Halloween, que, na sequência, ganhou diversos símbolos como bruxas, esqueletos, corujas, gatos negros, fantasmas e outros. Já as abóboras, cortadas e iluminadas com uma vela, conhecidas como Jack O’Lantern, eram feitas para espantar os espíritos de casa.
Comemorações
Hoje, a criatividade corre solta para a customização das abóboras. Famílias e amigos geralmente se reúnem para cortar as abóboras, remover as sementes e fazer os desenhos mais variados e tenebrosos possíveis. As abóboras podem ser compradas em supermercados ou, para ficar ainda mais animado, nos chamados Pumpkin Patch, espaços montados especialmente para vender o produto. No entanto, os Pumpkin Patches hoje vão muito além da venda das abóboras. Podendo ser montados em um pequeno espaço no centro de uma cidade ou em amplas fazendas de plantação de abóboras, a visita ao local é uma atração a parte. Cada um oferece uma enorme variedade de atividades como casas mal assombradas, passeios de trem e trator, fazendinhas com animais de verdade, música ao vivo, labirintos feitos em meio a um milharal e mais uma enorme variedade de atrações. Para se ter uma ideia de como é, aqui estão os sites de alguns famosos Pumpkin Patches nos Estados Unidos: Halls Pumpkin Farm, Portland Maize, Dellosso Farm.
Outra tradicional forma de comemorar o Halloween é levar a criançada para fazer o Trick or Treat (doce ou travessura). A brincadeira foi introduzida pelos irlandeses, que iam de porta em porta angariando comida para as festas de Halloween em suas vilas. Hoje, nos Estados Unidos, as crianças vão às ruas fantasiadas e pedem doces a seus vizinhos. Caso eles não tenham nada para oferecer, devem fazer uma travessura para compensar. A brincadeira cresceu tanto, que comércios também entraram na onda e abrem as portas para o trick or treat. Paradas também são comuns, em que crianças se fantasiam para os desfiles que, muitas vezes, acabam em premiação para quem estiver vestido de forma mais criativa.
E se engana quem pensa que somente a criançada curte o Halloween. Os adultos também se divertem, e muito, nas mais diversas comemorações, como festas nas ruas, em casas de amigos e familiares ou em grandes celebrações promovidas por empresas de eventos. Basta ter criatividade para desenvolver a própria fantasia ou escolher um tema com amigos e sair na calada da noite para curtir o Halloween. Há ainda as Haunted Houses (casas mal assombradas) que são montadas por todo lado nesta época do ano. Como a criançada geralmente fica com medo, quem aproveita esta parte são os adultos, que acabam saindo de lá com os olhos bem arregalados, do jeito que tem que ser, afinal de contas, Halloween deve ser “spooky”.
Ashley Dohren é uma amante do Halloween desde a infância. Nascida na Califórnia, ela conta que não há nada melhor do que se vestir em sua fantasia favorita, sair a noite batendo de porta em porta dizendo trick or treat e ganhando doces. “A maioria dos pais permitem que as crianças comma muitos doces nesta noite, em particular. E quanto mais velhas as crianças vão ficando, mais doces elas vão ganhando. Assim como as crianças, os adultos que distribuem os doces se divertem na noite de Halloween. Alguns deles fazem festas realmente assustadoras na semana que antecede a data”, comenta ela, acrescentando que, de fato, 1/4 das vendas de doces nos Estados Unidos se dá na época do Halloween.
Ashley diz que, antes de ter filhos ela se vestia em alguma fantasia sexy ou algo bem assustador e ia a festas de adultos. “Mas essa é uma outra história. Quanto mais sangue falso, melhor”, brinca ela. Após ter filhos, sua paixão por Halloween cresceu ainda mais. “Nada mais gratificante do que ver seu filho, de dois anos, vestido de Peter Pan e fazendo trick or treat. Agora, que estão mais crescidos, usamos a criatividade para decorar a casa com fantasmas, aranhas e teias, esqueletos, bruxas e vampiros”, conta ela, que, entre os temas, já se vestiram de Peter Pan, Pequena Sereia, Game of Thrones, Trolls e, para este ano, serão personagens do famoso filme de Tim Burton “O Estranho Mundo de Jack” e irão para uma rua próxima de sua casa fazer trick or treat. “Todas as casa desta rua estão decoradas e ela fica fechada por uma noite para que adultos e crianças possam se divertir com segurança”.
Halloween conquista brasileiros na América
A festa é tão popular que, além dos americanos comemorarem intensamente, os estrangeiros que moram nos Estados Unidos acabam a inserindo nas comemorações anuais e vira tradição.
A brasileira Geina Keilbart, morou por dois anos na Philadelphia com uma família americana, a qual sempre comemorou o Halloween de forma intensa, com festa, fantasia, decoração e tudo mais. Ela conta que a primeira impressão que teve foi ver que, nos Estados Unidos, as pessoas não se fantasiavam apenas de bruxas e vampiros, como era costume no Brasil, mas de tudo que quisessem. “Lembro que me surpreendi quando vi pessoas de Bob Esponja, personagens de séries, cowboys”, diz ela que, em seu primeiro Halloween se vestiu de Chapeuzinho Vermelho. Foi nesta época que ela vivenciou e se encantou pela festa. Ao voltar para o Brasil, ela estava finalizando a faculdade de letras com especialização em inglês e, como parte do curso, fazia diversos seminários e, na época do Halloween, promovia eventos com o tema para aumentar sua pontuação no curso. Além disso, fazia festas a fantasia na igreja, entre amigos e sempre que surgia a oportunidade.
Depois de um bom tempo indo visitar a família com a qual morou, ela conheceu o esposo e se mudou de vez para a Califórnia e, desde então, comemoram a data com festas entre amigos e fantasias combinadas. Ela lembra que a primeira fantasia em dupla foi a mais divertida. “Ele se vestiu de raio e eu fiquei segurando uma sombrinha quebrada, como se ele tivesse me atingindo”, conta rindo. Após terem o primeiro filho, se vestiram todos de personagens do seriado Cobra Kai e, para este ano, com a família ainda maior após a chegada do segundo filho, serão os Ursinhos Carinhosos. “Agora com crianças fica ainda mais divertido, pois tem os Pumpkin Patches e diversas outras atividades que fazem parte do Halloween”, diz ela que, para deixar as festas que promove mais assustadoras, congela suco de cranberry em luvas descartáveis e coloca as mãos “ensanguentadas” em jarros de vidro, além de deixar a criatividade voar longe para criar pratos dentro do tema.
Já Cintia Szepkuthy sempre teve o Halloween como parte de sua trajetória escolar, que aplicava diversos costumes do exterior nas aulas de inglês. “Todo ano acontecia o tão esperado Baile de Halloween, que era era mais esperado que as festas de formatura”, lembra ela, que se formou em turismo com especialização em eventos, tendo sempre as festividades presentes em sua vida. “Quando me mudei para a Flórida, em 2012, eu e meu marido íamos em muitas festas em bares, restaurantes e festas de rua, como a de Fort Lauderdale, um dos nossos lugares favoritos. Nossas fantasias eram bem elaboradas. Já fui pirata, strawberry shortcake, bruxa e meu marido, entre outras, foi zombie e joker, a qual já usou em duas versões”, lembra ela, que, após engravidar do primeiro filho, começou a fazer festas em casa. “Sempre caprichamos na decoração, com monstros infláveis, fantasma, bruxa motorizada, luzes, tudo muito assustador”, comenta.
Após o nascimento do primeiro filho, ela diz que entraram na brincadeira do Trick or Treat, oferecendo doces aos vizinhos no primeiro ano e, agora, já com o segundo filho, coletando doces com eles. “Além do Trick or Treat, visitamos pumpkin patch, compramos abóbora para cortar na semana do Halloween, fazemos comemorações com as crianças no condomínio. Assim como nós, eles adoram a data e não têm medo dos monstros e, se deixar, usam as fantasias o ano todo”, ri ela, lembrando que, no ano passado, devido ao Covid, fizeram apenas pequenos encontros com os filhos fantasiados e foram a alguns lugares que fizeram um drive thru de Trick or Treat para manter a distância e segurança de todos. Afinal, a comemoração não pode parar.